quinta-feira, 20 de março de 2014

Poema de outono

Para celebrar a mudança de estação, um hai-kai de Mario Quintana e um trecho do poema "Volta o outono" de Pablo Neruda:
 
"Hai-Kai de Outono:
Uma borboleta amarela?
Ou uma folha seca
Que se desprendeu e não quis pousar?"
 Mario Quintana

"O cavalo do velho outono tem a barba vermelha
e a espuma do medo lhe cobre as faces
e a aragem que o segue tem forma de oceano
e perfume de vaga podridão enterrada."

 Pablo Neruda 

domingo, 16 de março de 2014

As histórias precisam de você para fazer parte da vida das crianças

Livros da Coleção Itaú de Livros infantis em 2011 e 2012
Do zero aos 5 anos, as crianças vivem um momento fundamental do seu crescimento. Ler para uma criança nessa fase ajuda a desenvolver o raciocínio, o vocabulário e a imaginação dela. Nos últimos anos, instituições como o Banco Itaú já distribuiu gratuitamente mais de 30 milhões de livros e, em 2013, vai levar novas histórias para todo o Brasil. Mas a parte importante depende de você: leia para uma criança.

Peça sua Coleção Itaú de Livros infantis: www.itau.com.br/itaucrianca
Texto adaptado do Itaú.

O mundo inteiro de Liz Garton Scalon e Marla Frazee: A praia deserta, a noite tranquila, o dia de chuva, a horta, a cozinha e a família reunida... O que seria o mundo inteiro? Leia para uma criança: esta obra com versos rimados retrata conceitos universais numa linguagem simples e delicada. Vencedor do prêmio Cadelcott Honor de melhor ilustração.
E o dente ainda doía de Ana Terra: Um jacaré folgado e largado não consegue descansar por causa de uma tremenda dor dente. E mesmo com a ajuda de outros bichos... o dente ainda doía! Leia para uma criança: e descubra como essa divertida história brinca e educa com números em um ritmo gostoso de lenga-lenga. 
Mas para esse humilde blogueiro nada tira a vontade de ler um bom livro infantil, mesmo que esteja em galego. Acreditem tive que adicionar a conta de usuário da editora no Facebook para tentar comprar esse livro.

sábado, 8 de março de 2014

Poemas e poesias de Carlos Drummond de Andrade - 02

Drummond, sempre atual, sempre...essencial.

Aproveitando o tema sobre a greve dos garis Drummond nos ensina.

A lei o diz (decreto-lei que
nem sei se pode assim chamar-se,
em todo caso papel forte,
papel assustador). Tome cuidado,
lixeiro camarada, e pegue a pá,
me remova depressa este monturo
que ofende a minha vista e o meu olfato.

Você já pensou que descalabro,
que injustiça ao nosso status ipanêmico, lebloniano,
sanconrádico,
barramárico,
se as calçadas da Vieira Souto e outras conspícuas
vias de alto coturno continuarem
repletas de pacotes, latões e sacos plásticos
(estes, embora azuis), anunciando
uma outra e feia festa: a da decomposição
mor das coisas do nosso tempo,
orgulhoso de técnica e de cleaning?

Ah, que feio, meu querido,
essa irmanar de ruas, avenidas,
becos, bulevares, vielas e betesgas e tatatá
do nosso Rio tão turístico
e tão compartimentado socialmente,
na mesma chave de perfume intenso
que Lanvin jamais assinaria!

Veja você, meu caro irrefletido:
a Rua Cata-Piolho, em Deus-me-livre,
equiparada à Atlântica Avenida
(ou esta àquela)
por idêntico cheiro e as mesmas moscas
sartrianamente varejando,
os restos tão diversos uns dos outros,
como se até nos restos não houvesse
a diferença que vai do lixo ao luxo!

Há lixo e lixo, meu lixeiro.
O lixo comercial é bem distinto
do lixo residencial, e este, complexo,
oferece os mais vários atrativos
a quem sequer tem lixo a jogar fora.
Ouço falar que tudo se resume
em você ganhar um pouco mais
de mínimos salários.
Ora essa, rapaz: já não lhe basta
ser o confiscável serviçal
a que o Rio confere a alta missão
de sumir com seus podres, contribuindo
para que nossa imagem se redobre
de graças mil sob este céu de anil?

Vamos, aperte mais o cinto,
se o tiver (barbante mesmo serve)
e pense na cidade, nos seus mitos
que cumpre manter asseados e luzidos.

Não me faça mais greve, irmão-lixeiro.
Eu sei que há pouco pão e muita pá,
e nem sempre ou jamais se encontram dólares,
jóias, letras de câmbio e outros milagres
no aterro sanitário.

E daí? Você tem a ginga, o molejo necessários
para tirar de letra um samba caprichado
naqueles comerciais de televisão,
e ganhar com isto o seu cachê
fazendo frente ao torniquete
da inflação.

Pelo que, prezadíssimo lixeiro,
estamos conversados e entendidos:
você já sabe que é essencial
à segurança nacional, e por que não, à segurança multinacional.
 
Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 5 de março de 2014

Poemas e poesias de Carlos Drummond de Andrade



“Gosto de gente com a cabeça no lugar, idealismo nos olhos e os dois pés no chão da realidade.


Gosto de gente que ri, se emociona com uma carta, um telefonema, uma canção suave, um filme, um livro, um gesto de carinho, um afago.


Gente que ama e curte saudades, gosta de amigos, cultiva flores, ama os animais, admira paisagens...


Gente que tem tempo para sorrir bondade, semear perdão, repartir, ternuras, compartilhar vivências e dar espaço para emoções dentro de si...


Gente que gosta de fazer as coisas que gosta, sem fugir dos compromissos difíceis e inadiáveis, por mais desgastantes que sejam.


Gente que colhe, orienta, se entende, aconselha, busca a verdade e quer sempre aprender, mesmo que seja de uma criança, de um pobre, de um analfabeto.


Gente de coração desarmado, sem ódio e preconceitos baratos. Com muito amor dentro de si.


Gente que erra e reconhece, cai e levanta, apanha e assimila os golpes, tirando lições dos seus próprios erros...


Gosto muito de gente assim...  e desconfio que é deste tipo de gente que Deus também gosta!”

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 4 de março de 2014

Literatura da arte

Aqui reproduzo a publicação sobre os livros de Leonardo da Vinci: Cadernos de Desenho: Da Vinci - Estudos de Anatomia e da coleção em três volumes do livro Tratado de Pintura, publicados nos sites Comix Book e Art Cmargo.

 Cadernos de Desenho: Da Vinci - Estudos de Anatomia


Nova série de livros sobre Arte mostra o processo de criação dos Grandes Mestres, visando os admiradores dos Clássicos, especialmente aqueles que têm a intenção de desenvolver seus talentos artísticos.

Cada volume da coleção Cadernos de Desenho, que começa a ser publicada pela editora paulistana Criativo, vai apresentar um dos mestres da arte pictórica, como Leonardo da Vinci – Estudos de Anatomia neste número inaugural, o que vale dizer que vão ser editados os esboços e estudos dos artistas mais expressivos desde a Renascença — dos séculos XV e XVI —, chegando até a Art Noveau do início do século passado.

A formação do artista que visa uma futura produção de arte, independente da escola, estilo e gênero que ele venha a abraçar, passa por uma série de “estágios” e entre eles estão a contemplação de obras clássicas e o estudo delas, o que pode ser feito de várias maneiras, como com visitas a museus e mostras de arte e com a leitura de livros especializados. Já os Cadernos de Desenho desta coleção oferecem a oportunidade de um mergulho mais profundo no trabalho dos mestres, mostrando detalhes de obras consagradas ainda na sua forma incipiente, em esboços, e parte dos métodos eles procediam para desenvolver suas técnicas.

Por meio da simples vista do material desta coleção há de se aprender bastante sobre como trabalhavam aquelas pessoas abençoadas com tanto talento, entender o quanto elas se aplicaram para nos legar o melhor da História da Arte, e também há de se embevecer, encantar de prazer os sentidos com sua beleza indescritível.

Tratado de Pintura

Entre as incontáveis obras produzidas por Leonardo da Vinci está o seu Tratado de Pintura, do limiar do século XVI, no auge da Alta Renascença. As obras de arte de Leonardo da Vinci (1452-1519) por si equivalem a um tesouro de valor incomensurável, elas comovem e inspiram os novos artistas de hoje da mesma forma como surpreendiam e emocionavam aqueles que com ele conviveram, além dos inúmeros discípulos que Da Vinci teve em vida. Sobre tudo o que Da Vinci realizou nas suas inúmeras funções no âmbito artístico, ele formulou conceitos e parte dos quais transcreveu em seu Tratado de Pintura, obra que deixou para seus seguidores e estudiosos de sua obra pictórica. Trata-se de um volume acadêmico imenso, em tamanho e importância, que agora a Criativo, editora paulistana dedicada a livros sobre arte e de arte-educação, começa a lançar, iniciando com Preceitos da Pintura, com pesquisa, tradução e adaptação de Fabio Moraes, que organizou essa obra didática e referencial de Da Vinci, inteira, para a presente edição nacional. O interesse por Da Vinci e por sua obra deve ser completado com o conhecimento de seus escritos — ao lê-los, o estudante de arte pode ter uma noção exata sobre como os artistas da época de Da Vinci consideravam a arte, com um olhar profundamente humanista. Também é possível compreender o ambiente cultural e social complexo que produziu algumas das mais importantes obras artísticas da humanidade. O livro é ilustrado por desenhos do mestre e acompanha uma biografia para melhor situar Leonardo da Vinci, a escola de Florença e tudo que cercou o período artístico mais intenso e fértil da história ocidental.

O Tratado de Pintura de Leonardo da Vinci foi a obra que o mestre escreveu no século XVI, registrando todos os seus conhecimentos teóricos acerca da arte que o imortalizou.

Ao todo, o Tratado de Pintura tem cerca de 300 páginas e perto de 400 preceitos que versam sobre variados temas como: desenho, pintura, perspectiva, anatomia, cor, composição, natureza, luz e sombra, além de conceitos filosóficos e estéticos.

A bibliografia sobre Da Vinci tem uma inexplicável lacuna em língua portuguesa: o Tratado de Pintura não havia, até então, recebido nenhuma tradução em português — agora, ele está sendo publicado em três volumes de 96 páginas cada um, com pesquisa, tradução e direção de arte de Fabio Moraes, sendo que o primeiro volume, Preceitos da Pintura, foi recentemente editado. Na tradução, o estilo e a narrativa originais foram preservados, mantendo a beleza dos manuscritos.

Uma parte dos preceitos deste volume II trata das proporções do corpo humano, em detalhes mínimos, o que comprova a visão humanista que Leonardo e outros luminares da Renascença tinham da arte; outra parte, fala especificamente de materiais usados na produção de arte e isso acrescenta um viés curioso à obra, visto que os próprios mestres os pesquisavam, produziam e descobriam o melhor uso deles a fim de obter os resultados desejados — isso fica bem ressaltado nos preceitos de Da Vinci, como “aulas” aos seus seguidores.

Cada volume do Tratado de Pintura traz importantes textos complementares, e neste segundo volume temos a complexa e curiosa história do próprio tratado, por onde ele “andou” desde as primeiras compilações dos manuscritos originais, passando pelo aparecimento do importante Codex Urbinas Latinus, em 1651, até a edição impressa realizada em 1817, quase como o conhecemos hoje.