Sistema onomástico é o conjunto de regras legais ou consuetudinárias
(da tradição) que um país (ou uma cultura) adota para dar nomes às
pessoas e às coisas. Aqui vou abordar apenas do sistema de nomes próprios pessoais, os antropônimos.
A Islândia adota um sistema quase que puramente patronímico, ou seja, o "sobrenome" do filho faz referência ao prenome do pai:
- "Samúel Friðjónsson" significa que Samúel é filho de Friðjón.
- "Aron Gunnarsson" significa que Aron é filho de Gunnar.
Se Samúel tiver um filho chamado Gunnar, o nome completo dele será "Gunnar Samuelsson".
Se Aron tiver um filho chamado Friðjón, o nome completo dele será "Friðjón Aronsson".
Se for uma menina chamada Sigríður filha de Samuél, será "Sigríður
Samúelsdóttir". Se for filha de Aron, "Sigríður Aronsdóttir".
Notem que "-son" está para "filho" e "-dóttir" está para filha, cognatos das palavras inglesas "son" e "daughter".
E qual é a peculiaridade da Islândia? É o único país de cultura
ocidental a manter esse sistema puramente patronímico, não havendo
"sobrenomes" propriamente ditos, pois ele é trocado a cada geração.
Várias outras culturas europeias adotavam esse sistema, que foi abolido
em épocas distintas ao logo da História.
Nos países ibéricos, Portugal e Espanha, a desinência patronímica é o "-es" nos sobrenomes portugueses e o "-ez" nos espanhóis. Assim, "Rodrigo Antunes" era o Rodrigo filho do António. E o Nuno filho
do Rodrigo era o "Nuno Rodrigues". E o Marcos filho do Nuno era o
"Marcos Nunes". E o Vasco filho do Marcos era o "Vasco Marques". E o
Martim filho do Vasco era o "Martim Vasques" (ou Vaz). O Pedro filho do
Martim era o "Pedro Martins". E assim sucessivamente até que em
um determinado momento o patronímico se "congelou" e tornou-se um
sobrenome como hoje conhecemos.
Na Itália, o sistema era um tanto mais complexo, mas há paralelos. A forma mais evidente é o uso da preposição "Di" (ou "De"). "Giovanni Di Luca" era filho do Luca. O Pasquale filho do Giovanni era "Pasquale Di Giovanni". Outra forma patronímica tipicamente italiana são os sobrenomes que
terminam em "-i" (apenas uma parte deles, não todos!): na frase em
latim, Pietro filho de Martino é "Petrus filius Martini" (caso
genitivo). Com o tempo perdeu-se o "filius" e sobrou apenas o "Martini".
De uma forma bem "grossolana" (grosso modo), pode-se dizer que a
forma patronímica com "Di" ou "De" é mais comum no centro-sul da
península itálica, enquanto que a desinência "-i" é mais recorrente do
centro (Úmbria, norte do Lácio, Toscana) até o norte.
Muitíssimos
sobrenomes vênetos perderam o "-i" por influência das características
fonéticas da língua vêneta, daí Martin, Pavan, Meneghel, Visentin etc.
Lembrando que a desinência "-i" nem sempre era patronímica, muitas vezes
originadas de outras motivações onomásticas.
Por fim, na Rússia atribui-se um "nome do meio" (Отчество, Otchestvo) que é
patronímico, mas esse nome do meio NÃO é o sobrenome da família, mas
apenas um nome "cerimonial" da tradição. O presidente da Federação Russa
chama-se "Vladimir Vladimirovič Putin". O sobrenome fixo nas gerações é
Putin e ele não muda. O patronímico cerimonial (Отчество) é
Vladimirovič pois o pai dele se chamava Vladimir, que por acaso é o
mesmo nome dele. Portanto, suas duas filhas se chamam PRENOME +
Vladimirovna + Putina. O sobrenome é Putina, pois é Putin flexionado em
gênero.
Portanto, a diferença é que na Islândia existe um sistema
onomástico patronímico puro em que os "sobrenomes" trocam a cada
geração. Na Rússia o sobrenome é fixo e apenas o elemento cerimonial
(Отчество) que muda.
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