domingo, 17 de junho de 2018

O que é um sistema onomástico nos nomes?

Sistema onomástico é o conjunto de regras legais ou consuetudinárias (da tradição) que um país (ou uma cultura) adota para dar nomes às pessoas e às coisas. Aqui vou abordar apenas do sistema de nomes próprios pessoais, os antropônimos.

A Islândia adota um sistema quase que puramente patronímico, ou seja, o "sobrenome" do filho faz referência ao prenome do pai:

- "Samúel Friðjónsson" significa que Samúel é filho de Friðjón.
- "Aron Gunnarsson" significa que Aron é filho de Gunnar.

Se Samúel tiver um filho chamado Gunnar, o nome completo dele será "Gunnar Samuelsson".
Se Aron tiver um filho chamado Friðjón, o nome completo dele será "Friðjón Aronsson".
Se for uma menina chamada Sigríður filha de Samuél, será "Sigríður Samúelsdóttir". Se for filha de Aron, "Sigríður Aronsdóttir".

Notem que "-son" está para "filho" e "-dóttir" está para filha, cognatos das palavras inglesas "son" e "daughter".

E qual é a peculiaridade da Islândia? É o único país de cultura ocidental a manter esse sistema puramente patronímico, não havendo "sobrenomes" propriamente ditos, pois ele é trocado a cada geração. Várias outras culturas europeias adotavam esse sistema, que foi abolido em épocas distintas ao logo da História.

Nos países ibéricos, Portugal e Espanha, a desinência patronímica é o "-es" nos sobrenomes portugueses e o "-ez" nos espanhóis. Assim, "Rodrigo Antunes" era o Rodrigo filho do António. E o Nuno filho do Rodrigo era o "Nuno Rodrigues". E o Marcos filho do Nuno era o "Marcos Nunes". E o Vasco filho do Marcos era o "Vasco Marques". E o Martim filho do Vasco era o "Martim Vasques" (ou Vaz). O Pedro filho do Martim era o "Pedro Martins". E assim sucessivamente até que em um determinado momento o patronímico se "congelou" e tornou-se um sobrenome como hoje conhecemos.

Na Itália, o sistema era um tanto mais complexo, mas há paralelos. A forma mais evidente é o uso da preposição "Di" (ou "De"). "Giovanni Di Luca" era filho do Luca. O Pasquale filho do Giovanni era "Pasquale Di Giovanni". Outra forma patronímica tipicamente italiana são os sobrenomes que terminam em "-i" (apenas uma parte deles, não todos!): na frase em latim, Pietro filho de Martino é "Petrus filius Martini" (caso genitivo). Com o tempo perdeu-se o "filius" e sobrou apenas o "Martini".
De uma forma bem "grossolana" (grosso modo), pode-se dizer que a forma patronímica com "Di" ou "De" é mais comum no centro-sul da península itálica, enquanto que a desinência "-i" é mais recorrente do centro (Úmbria, norte do Lácio, Toscana) até o norte.

Muitíssimos sobrenomes vênetos perderam o "-i" por influência das características fonéticas da língua vêneta, daí Martin, Pavan, Meneghel, Visentin etc. Lembrando que a desinência "-i" nem sempre era patronímica, muitas vezes originadas de outras motivações onomásticas.

Por fim, na Rússia atribui-se um "nome do meio" (Отчество, Otchestvo) que é patronímico, mas esse nome do meio NÃO é o sobrenome da família, mas apenas um nome "cerimonial" da tradição. O presidente da Federação Russa chama-se "Vladimir Vladimirovič Putin". O sobrenome fixo nas gerações é Putin e ele não muda. O patronímico cerimonial (Отчество) é Vladimirovič pois o pai dele se chamava Vladimir, que por acaso é o mesmo nome dele. Portanto, suas duas filhas se chamam PRENOME + Vladimirovna + Putina. O sobrenome é Putina, pois é Putin flexionado em gênero.

Portanto, a diferença é que na Islândia existe um sistema onomástico patronímico puro em que os "sobrenomes" trocam a cada geração. Na Rússia o sobrenome é fixo e apenas o elemento cerimonial (Отчество) que muda.

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