Saiba como Facebook lucra com dados de usuários
Em
plena polêmica que levou o fundador e presidente do Facebook, Mark
Zuckerberg, ao Parlamento britânico terça-feira ("20/03/2018"), para
explicar as acusações de apropriação indevida de dados pessoais de seus
usuários, entenda como a rede social mais famosa do mundo transforma
suas informações em “ouro”.
A coleta de dados
executada pelo Facebook pode ser considerada legalmente aceitável, se
levarmos em conta que a rede social não vende os dados em si, mas o
acesso aos usuários que disponibilizam estes dados, na maioria das vezes
sem ter lido detalhadamente as condições de utilização. No entanto, uma
comissão parlamentar britânica quer saber exatamente como as empresas
adquirem e armazenam dados dos usuários do Facebook e, especialmente, se
os dados foram obtidos sem o seu consentimento.
A
polêmica tomou hoje também as páginas do jornal The New York Times (NYT)
nos Estados Unidos, onde um escândalo envolvendo a consultoria
Cambridge Analytica - que trabalhou para a campanha eleitoral do
presidente americano Donald Trump, se encontra no olho do furacão.
Segundo investigações do NYT e do jornal britânico The Guardian, a
Cambridge Analytica teria recuperado dados de milhões de usuários de
Facebook, sem seu consentimento, com os quais teria criado um programa
destinado a prever e influenciar o voto dos eleitores.
Mas qual a mecânica do processo de utilização dos dados de usuários pelo Facebook?
Quem
se registra na rede social imaginada por Mark Zuckerberg é recebido com
esta promessa: "O Facebook é gratuito, e isso permanecerá para sempre".
Mas, se os usuários não pagam nada, como o Facebook gera seus enormes
lucros - quase 16 bilhões de dólares no ano passado, um aumento de 56%
em relação ao mesmo período do ano anterior? A resposta é muito simples:
via publicidade.
Por exemplo, no quarto trimestre
de 2017, a receita de publicidade representava 98,5% da receita total da
empresa. O Facebook aplica literalmente um slogan bem conhecido de
todos os especialistas em marketing: "Se é de graça, você é o produto". O
"produto", neste caso, são os dados que cada usuário fornece à rede
social sempre que reage a várias publicações - via "curtidas", ou
emoticons - que ele mesmo disponibiliza, ou pesquisa.
Informações pessoais, o tesouro dos anunciantes
"Os
dados pessoais são o petróleo de hoje. Têm muito valor, mas, se não
forem refinados, não podem ser usados": esta citação atribuída ao
matemático britânico Clive Humby, em 2006, explica perfeitamente o
modelo econômico do Facebook. Ao "refinar" uma matéria-prima - bilhões
de publicações, fotos, interações - o gigante da Califórnia permite que
os anunciantes enviem promoções chamadas de "segmentados".
O
grupo explica o procedimento em um site dedicado aos anunciantes. "Se
você deseja anunciar para pessoas com base em idade, localização, hobby,
ou outro, podemos ajudá-lo a entrar em contato com aqueles que
provavelmente estão interessados em seus produtos, ou serviço", informa.
"Se você tem uma loja de sapatos, você pode, por exemplo, segmentar as
pessoas que compraram sapatos recentemente", diz o Facebook.
"Não
temos consciência de compartilhar toda essa informação sobre nós e, na
realidade, as redes sociais nos conhecem melhor do que os nossos
próprios pais", diz Nathalie Devillier, pesquisadora especializada em
proteção de dados.
É possível restringir o acesso
dos anunciantes nas configurações de sua conta no Facebook. É possível,
por exemplo, responder "não" à pergunta "Deseja ver anúncios on-line
segmentados do Facebook?".
"O Facebook não vai
procurar nada além do que você colocou na web. É o usuário que é
responsável por isso", explica o presidente do think tank liberal
GénérationLibre, Gaspard Koenig. Ele defende que a lógica do mercado
seja ampliada, dando aos próprios usuários a oportunidade de venderem
seus dados.
Já a União Europeia escolheu outro
caminho: o de maior proteção das informações pessoais, com a entrada em
vigor, no final de maio, de uma regulamentação sobre o assunto.
Fonte: http://br.rfi.fr/.../20180320-se-e-de-graca-voce-e-o...
H.·. P.·. S.·. 1000644
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